CPI da BHTrans #2

Tarifa Zero BH
4 min readJun 16, 2021

Depoimento do ex-presidente Célio Bouzada

Na semana passada, a CPI da BHTrans, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, recebeu o Célio Bouzada, ex-presidente da empresa. Quando ele assumiu o cargo a tarifa já era R$ 4,05 — quando ele saiu era R$ 4,50, com menos linhas e menos cobradores. Vem ver os principais pontos da oitiva:

→ INTEGRAÇÃO DE TARIFA: Célio disse que a população “pode pegar dois ônibus pelo preço de um nos domingos”. Que grande ajuda, obrigada, BHTrans (contém ironia). Se a integração é ruim com ônibus do mesmo sistema, é ainda pior com metrô, transporte suplementar e sistema metropolitano: nessas situações a integração não existe. Célio responde que é porque não tinha vontade política entre as partes nem tecnologia para integração. Lembramos que o homem foi à Lua na década de 1960.

→ COBRADORES: Célio também tentou escapar do questionamento sobre o não pagamento das multas por parte das empresas de ônibus igual o prefeito, dizendo que as empresas têm o direito de recorrer. Já falamos antes: mesmo que as empresas pagassem todas as multas, ainda valeria a pena retirar os cobradores. Ou seja: as multas não são um instrumento efetivo e ao retirar os agentes de bordo as empresas atuam ILEGALMENTE!

→ IMPLANTAÇÃO DO BRT: Uma das perguntas que não querem calar é porque o sistema de BRT, que custou R$ 1,2 BILHÃO, foi feito sem licitação. Célio diz que desconhece o valor da obra, que “acha” que custou R$ 500 milhões, e que a BHTrans só coordenou. Ele disse ainda que a empresa achou que não precisava de licitação. Parênteses: a linha 2 do metrô (Barreiro-Nova Suiça) custaria cerca de R$ 1,4 bilhões, ou seja, gastamos quase o mesmo valor para implantar 23 quilômetros de BRT e a BHTrans achou que não era necessária uma licitação. Vai vendo…

→ “PREJUÍZO” DOS EMPRESÁRIOS: Os empresários de ônibus vivem dizendo que estão atuando com um prejuízo mensal de 4 milhões. Porque eles não entregam o contrato então? Bouzada falou (atenção!) que é necessário fazer uma auditoria nas contas deles. Ué, mas não foi isso que a BHTrans disse que faria em 2018. Atenção ao próximo item.

→ “AUDITORIA” DO TRANSPORTE PÚBLICO: estamos repetindo desde 2018: NÃO TEVE AUDITORIA. E não é só a gente quem diz: a própria Maciel, empresa contratada para o serviço, afirma que não fez uma auditoria, e sim uma verificação independente dos fatos (pode conferir, tá na página 38 do relatório). Apesar de afirmar que não há como garantir se as informações enviadas pelas empresas foram fraudadas, Celio insiste em dizer que houve auditoria (ta precisando de umas aulas de interpretação de texto…).

→ DÍVIDA COM AS EMPRESAS DE ÔNIBUS: A vereadora Bella Gonçalves perguntou sobre a dívida da Prefeitura de BH com as empresas de ônibus de R$ 470 MILHÕES que está sendo paga desde 2007 a juros de 12% ao ano. Célio disse (pasmem!) que não sabia disso. Ele trabalha na BHTrans há mais de 20 anos, foi presidente, foi o coordenador dos trabalhos relacionados à nova licitação em 2007–2008 e diz que NÃO SABIA!

→ RETIRADA DE LINHAS: Antes de mais nada, vale lembrar que o Célio falou sobre o Busão da Comunidade como algo feito em parceria com a BHTrans. Pois então, NÃO FOI! A luta que travamos ao lado dos moradores do Aglomerado da Serra durou um ano e meio e a empresa fez de tudo para dificultar o processo. Ou seja, ele aconteceu APESAR da BHTrans. Depois dessa pataquada, Celio citou algumas linhas criadas durante sua gestão (sem citar as que foram extintas, conveniente, não?) e acabou deixando escapar que é impossível criar linhas no sistema convencional sem ferir o atual contrato de ônibus em vigor desde 2008. (Ah, e o Célio se referiu ao Busão da Comunidade como “o famoso ônibus do busão” mostrando toda sua desenvoltura e malemolência em tentar fingir que é parte dos movi)

→ INVESTIGADO: Foi citada a implantação de uma parceria entre Setra (Sindicato das Empresas de Ônibus), Sintram (Sindicato das Empresas de Ônibus Metropolitano) e faculdades Fumec. Nessa parceria, Celio Bouzada passou a dar aulas para os alunos. O vereador Gabriel perguntou quanto ele recebeu das empresas de transporte para se tornar professor do curso. Célio, muito nervoso, disse que não sabia responder. Gabriel falou sobre o absurdo que é ser remunerado para dar aulas para a mesma empresa a qual ele é responsável pela fiscalização.

Talvez uma das frases mais absurdas proferidas pelo ex-presidente da BHTrans foi o momento em que disse que quando assumiu a presidência, em 2017, “teve absoluto sucesso” em resolver os problemas de transporte para os mais pobres. Dai-nos paciência!

Sigam aqui os próximos capítulos!

#CPIdaBHTrans #transporte #tarifazerobh

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Tarifa Zero BH

Movimento social de Belo Horizonte. Por um transporte sem catracas.